Neto de um pedreiro, o menino X., de 6 anos — detido
nesta sexta-feira ao lado de outra criança, de 12 anos, após furtar o
cordão de ouro de uma mulher na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão —
vive com a mãe e outros irmãos menores no Tuiuti. De acordo com
vizinhos, o garoto nunca frequentou uma escola e passa maior parte do
dia nas ruas. O menino de 12 anos apreendido ao lado de X. também não
está estudando atualmente. A notícia de que X foi apreendido pela
polícia não causou espanto a quem o conhece.
— Ele é levado mesmo.
Nunca esteve numa escola. Pra gente, não foi surpresa. Fica na rua o
dia inteiro e chega ir à praia sozinho. Já trouxe outros dois cordões
para cá — disse um vizinho de X.
Y. é descrito pela mãe, uma
cozinheira, como um menino calmo, que ano passado concluiu o 6º ano.
Segundo ela , o garoto foi corrigido e teve dificuldades para dormir.
—
Eu conversei e corrigi meu filho em casa. Ele chorou muito desde que
saiu da delegacia. Me prometeu que não fará mais uma coisa desta.
Nenhuma mãe que ver o filho passar por isso. Ele está proibido de andar
com o X. — disse a cozinheira.
A mãe de Y. revelou porque seu filho ainda não está estudando em 2015:
— Ele estudava numa escola que só vai até o 6º ano. Foi transferido para
uma escola do bairro do Caju. Lá é longe. Estou tentando algo mais
perto.
Vítima do assalto, a
cortadora de roupas Ana Cláudia de Araújo, de 40 anos, diz que não
desconfiou dos garotos por eles serem novos demais:
— Eu saí do
trabalho com a minha sobrinha em direção à estação de trem. Em frente à
Quinta da Boa Vista, vi que os dois meninos vinham andando de bicicleta,
mas nem liguei. Não desconfiei justamente por causa da idade e do
tamanho deles. Foi quando o menor passou bem rente a mim e puxou meu
cordão de ouro, que ganhei há oito anos da minha mãe falecida, e
entregou ao mais velho. Ele ficou muito nervoso e jogou em um bueiro.
Imediatamente abordei uma viatura que passava na rua e em seguida os
meninos foram pegos. Depois que eu os reconheci, fomos para a delegacia
no carro da PM. O mais novo não falou nada, mas o mais velho estava
arrependido e chorava muito. Estou muito assustada. Vou mudar meu
caminho porque tenho receio que eles marquem a minha cara. Acho que o
erro está na estrutura familiar deles, pois tenho 14 sobrinhos que, com
certeza, não fariam nada parecido.
O envolvimento do menor de 6
anos chocou especialistas e reacendeu o debate sobre a redução da
maioridade penal. Para o desembargador Siro Darlan, coordenador das
Varas da Infância, Juventude e Idoso, a falta de políticas públicas nas
comunidades acaba levando os jovens para o crime.
— Eles (os menores) estão habituados a nascer e crescer ouvindo sempre não — disse.
O
desembargador Guaraci Vianna, ex-juiz da 2ª Vara da Infância e
Juventude, acha que o envolvimento de crianças no crime é reflexo do
ambiente, mas crê que rigor na punição é mais eficaz que redução da
maioridade penal.
Para o coronel Milton Corrêa da Silva,
especialista em segurança pública e defensor da redução da maioridade
penal, o caso deve ser visto com cuidado. A certeza da impunidade,
segundo ele, é o que atrai cada vez mais adolescentes e crianças ao
mundo do crime.
O ex-secretário nacional de Segurança, Coronel
José Vicente da Silva Filho, diz que esses casos são reflexos da
formação e podem ser resolvidos com política social. Mas, para crime
hediondo defende todo rigor para o menor, com redução penal.
Do Extra
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