Empresário faz anúncio procurando por vendedora sem WhatsApp em MG
Decisão ocorreu depois que 12 candidatas trocaram clientes por bate-papo.
Advogado trabalhista alerta para interpretação discriminatória
Cansado de dispensar funcionárias que trocavam clientes por um bate-papo no WhatsApp, o empresário de Uberlândia Gilmar Gomes fez um anúncio com a seguinte frase: “Precisa-se de Vendedora com Experiência (OBS: Sem whatsapp)”.
Gomes disse que a ideia surgiu depois que 12 candidatas foram
dispensadas em 15 dias pelo uso excessivo e sem controle do aplicativo.
Só depois de tantas tentativas ele conseguiu contratar alguém que não
faz uso de internet no trabalho.
“Elas vinham e entregavam currículo, mas não passavam no teste. Ao
invés de atender as clientes, ficavam com o celular em mãos. Só se ouvia
o barulho do aplicativo”, afirmou. O empresário diz que trabalha há 15
anos no mercado de vendas e que atualmente tem encontrado dificuldades
para arrumar boas funcionárias.
“Eu não sabia mais o que fazer e foi então que surgiu a ideia. Antes de
colar o papel na porta da loja, recebia quase 20 currículos por dia.
Após o cartaz, em cinco dias não recebi nem dez. As pessoas passavam
aqui e fotografavam o anúncio, outras riam e até comentavam as escritas,
mas pedir emprego que é bom, nada”, afirmou Gomes.
Críticas
O empresário lembrou que quando criou o anúncio chegou a ser criticado e
alertado de que não encontraria pessoas com o perfil que estava
buscando, pois "o mundo vive conectado".
“Talvez eu tenha colocado as palavras no cartaz de forma rigorosa, mas a
intenção era que pelo menos no horário de trabalho o aplicativo fosse
deixado de lado. As pessoas sentem falta de um bom atendimento, de um
corpo a corpo. Várias empresas já proíbem o uso do aparelho celular no
trabalho, mas o anúncio eu não nego que causou confusão”, diz.
Ele também justificou que o custo com o funcionário já não é barato e
que essa interferência tecnológica acaba atrapalhando a concentração, o
foco, a produção e a disponibilidade em certas atividades.
“Já disponibilizamos o telefone fixo da loja para assuntos urgentes.
Acredito que esperar a hora do almoço, do lanche ou até mesmo da saída
para mexer no aparelho não seria nada extraordinário”, acrescentou.
Gomes disse ainda que a imagem do anúncio acabou caindo em uma página
do Facebook e mais de 400 pessoas compartilharam o post. Várias delas,
segundo ele, criticaram a atitude de buscar alguém que não vive
conectado.
“Quando vi as críticas, não nego que fiquei com muita vergonha, mas essa infelizmente é a nossa realidade. Acabei levando na brincadeira”, disse.
“Quando vi as críticas, não nego que fiquei com muita vergonha, mas essa infelizmente é a nossa realidade. Acabei levando na brincadeira”, disse.
Nova contratada
Apesar da repercussão do anúncio, o empresário conseguiu uma
funcionária que preenchia o requisito. Aline Souza, de 35 anos, é a nova
contratada. Ela contou à reportagem que quando viu o anúncio achou
engraçado, mas logo depois percebeu que seria uma oportunidade para
retornar ao mercado. “Vi como positivo. Como eu não tenho WhatsApp,
pensei 'essa oportunidade é minha'”, afirmou a vendedora.
Aline acrescentou que o cartaz foi uma forma de limitar quem realmente
tinha interesse na vaga. “Achei legal a ideia, pois acaba economizando
tempo e evitando desgaste para o empresário. É complicado toda hora ter
que ficar chamando atenção de funcionária por causa disso. Se está no
anúncio, o candidato à vaga já deve entrar ciente do que pode ou não
pode”, concluiu a contratada.
Visão de especialista
Na
opinião do advogado especialista em direitos trabalhistas Rafael
Garagorry, o anúncio, da forma que foi escrito, dava interpretação
discriminatória.
“A lei 9029/95 determina
que fica proibida a adoção de qualquer prática discriminatória e
limitativa para efeito de acesso a relação de emprego. Assim, entendo
que a opção por pessoas que não tenham o referido programa no celular é
uma prática discriminatória”, disse.
“Se a utilização do programa está diminuindo a produção do funcionário,
deverá o mesmo ser advertido ou não permitido de utilizar o programa
durante o expediente, porém o simples fato de o candidato à vaga possuir
o programa não poderá ser empecilho para que seja contratado”, afirmou o
advogado.
Concordo x não concordo
Usar ou não usar WhatsApp durante o expediente? O G1 foi às ruas saber o que as pessoas acham desta situação. Apesar de o aplicativo ser o queridinho de muitos, dos 15 entrevistados pela reportagem, mais da metade (9) disse ser contra o uso no trabalho. Veja alguns depoimentos abaixo:
“Sou contra a proibição, mas acho que a empresa e o funcionário devem
manter um diálogo e encontrar o meio termo. Seja a liberação na hora do
almoço ou nos intervalos ou o uso consciente. Se não funcionar acho que o
funcionário deve ser punido com medidas previstas nas leis
trabalhistas.”
Luana Roque, jornalista
"Acho válida a proibição. O aplicativo é um meio de comunicação que
dispersa muito a atenção e pode atrapalhar no ambiente de trabalho."
Eliana da Silva Bezerra, consultora de vendas
"Funcionário não deve ficar no aplicativo, a não ser que seja assuntos
direcionado a empresa. Eu particularmente vendo muito por WhatsApp, mas
confesso que tem horas que prefiro nem abrir o aplicativo. Como sempre,
as pessoas têm que aprender a utilizá-lo."
Kalicio Manoel dos Santos, empresário
"Dependendo da empresa e das funções do empregado, é mais do que
necessária a proibição. Se atrapalha o desenvolvimento do funcionário,
acaba prejudicando a empresa."
Hanny Angele de Barros, relações públicas
“Desde que não atrapalhe o desempenho das atividades regulares inerentes ao cargo ou tarefa, não tem nada contra”.
Maria Inês Tannús Silva, aposentada
"O funcionário que fica sem celular fica mais tenso e mais estressado, porque pode deixar de atender algo importante também."
Dara Vila Real de Oliveira Mós, estudante
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