Famílias protestam após enterro de vítimas de ação de PMs: "aqui não tem bicho"
"O que mais me dói é ver chamarem meu filho de traficante. Perdi ele e ainda tenho que ouvir isso", lamenta pai de adolescente
Os enterros de dois corpos de jovens mortos durante ações da Polícia
Militar provocaram gritos de protesto e pedidos de justiça nos
cemitérios onde ocorreram os sepultamentos. O corpo do adolescente Emerson de Souza da Silva, 17 anos, atingido na cabeça no último sábado por um tiro disparado por um policial militar, foi enterrado no Cemitério Quinta dos Lázaros, na Baixa de Quintas.
Após a cerimônia, um grupo seguiu em caminhada até o Largo da Calçada.
No local onde Emerson vendia frutas numa banca com o pai, foi amarrada
uma faixa em homenagem ao jovem. “Eles tiraram meu filho de mim, mas eu
entrego eles nas mãos de Deus. O que mais me dói é ver chamarem meu
filho de traficante. Perdi meu filho e ainda tenho que ouvir isso. Só
quem já passou por essa dor sabe o que eu estou sentindo”, contou o pai
de Emerson, o comerciante Edilson Rodrigues.
As queixas do pai se referem a nota divulgada anteontem pela Polícia Militar informando que Emerson foi baleado quando policiais revidaram a uma troca de tiros no bairro.
A PM disse ainda que encontrou um revólver e drogas com o adolescente. A
versão é contestada por parentes, que dizem que o jovem foi executado
após ser abordado por policiais quando voltava de uma festa.
Já o corpo do empacotador Luiz Vagner dos Santos Anunciação,
29, foi sepultado no cemitério Bosque da Paz, em Nova Brasília. Luiz
era deficiente mental e foi baleado nas costas por um policial militar
durante uma operação no bairro de Fazenda Grande, em 27 de janeiro.
“Aqui não tem bicho. Somos cidadãos”, estava escrito
no cartaz levado pela balconista Arlete Alves, 28. “Moro no bairro há
muito tempo e nunca vi um absurdo desses. Estamos com muito medo da
polícia”, disse Arlete. A Polícia Militar informou que as
circunstâncias das duas mortes são investigadas. O autor do tiro que
matou Luiz foi afastado.
Versão oficial
Segundo
a Rondesp Central, na noite da abordagem, quatro homens foram flagrados
em um veículo Mitsubishi L200, com restrição de roubo, na Fazenda
Grande II. Ao serem abordados, eles fugiram e foram perseguidos pelos
PMs. Na fuga, dispararam contra os policiais, que revidaram.
PM que atirou pediu desculpas
O soldado da Rondesp Central Eric Graupner, responsável pelo tiro que atingiu o empacotador pediu desculpas à mãe do jovem e se disse envergonhado pelo que fez.
Em uma mensagem enviada ao celular de dona Valdemira dos Santos da
Anunciação, Eric, que foi afastado das atividades, quis saber o estado
de saúde de Luís.
"Sei que já estou causando muita dor a sua família, e
estou muito envergonhado com toda essa situação. Estou orando pela
recuperação dele. Só Deus sabe como estou arrependido", disse, em
mensagem que o CORREIO teve acesso. "Se precisarem de qualquer coisa,
por favor me deixem ajudar. É o mínimo que posso fazer", disse, em outra
mensagem.
Do Correio 24 Horas
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