O sangue quente da Bahia: Daniela Mercury ferve os foliões
Era um bebê quando ouvi Daniela Mercury pela primeira vez. Desde o Canto
da Cidade, sempre passei a considerá-la uma voz representativa daquilo
que a Bahia tem de melhor: o sangue quente que corre em suas veias.
Neste Carnaval, eu, como muitos foliões, vimos Daniela
puxar um trio pela primeira vez. Quando avistamos o bloco surgindo na
esquina do Farol da Barra, sua voz única já invadia o som do trio à sua
frente, empurrada e potencializada por outras milhares.
Canções como Pérola Negra e o refrão “zum, zum, zum,
zum, zum baba”, que provoca um efeito visual incrível com uma
performance única do público de seu bloco, pulando como pipoca, Daniela
ressalta o que a Bahia tem de melhor: sua cultura regional. Em tempos de
segregação racial e social provocada pelo Carnaval, Daniela Mercury
traz consigo a imposição cultural que somente blocos históricos como Ilê
Aiyê, Filhos de Gandhy e Olodum são capazes.
Quando ela parou à minha frente e, de cima do trio,
acenou afetivamente, logo percebi a razão pela qual a cantora segue
sendo uma atração única dentro do Carnaval baiano e brasileiro. Daniela é
a cara da Bahia, é pura e totalmente baiana, de alma, etnia e espírito.
Os saudosistas provavelmente ficariam ainda mais
emocionados do que eu fiquei ao vê-la reverenciando as religiões
derivadas do candomblé e umbanda em frente ao mestre Vovô do Ilê, de
representatividade sem igual. Ou seja, Daniela sabe a importância da
defesa das minorias e das culturas tradicionais, historicamente
rejeitadas pelas potências ocidentais, ainda mais em uma época onde a
tradição do Carnaval de Salvador corre tanto risco.
Com toda a pompa de uma estrela, a loira seguiu
balançando seus cachos expressivos pelo restante do circuito, tendo seu
trio praticamente carregado pela multidão. Mais uma vez, Daniela mostrou
estar no nível de artistas emblemáticos como Luiz Caldas, Armandinho,
Gilberto Gil e Caetano Veloso. Eu, os baianos e os brasileiros
agradecemos.
Por Terra
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