"Foi cena de filme, teve quem largou o carro na rua", diz testemunha de tiroteio na Garibaldi

A Avenida Garibaldi parou na terça-feira (24), por volta de 11h, após confronto entre policiais civis e bandidos, que haviam acabado de assaltar uma lotérica. O resultado da ação: um ladrão morto, três presos e um motorista que trafegava pela via baleado. Na avenida movimentada, condutores e pedestres ficaram em pânico.

O ataque da quadrilha à Lotérica Garibaldi, que fica na avenida de mesmo nome no subsolo do Hiper Bompreço, ocorreu por volta das 10h30. O bando realizou uma ação discreta. “Nem percebi que tinha ocorrido um assalto, até que eles saíram daqui cantando os pneus. Aí foi que a menina falou que a casa tinha sido assaltada”, contou uma atendente que trabalha em um boxe próximo à lotérica.

Em posse da quantia roubada, os assaltantes saíram da garagem do mercado em alta velocidade.  Para realizar o assalto, o grupo usou dois veículos: um Corsa Classic grafite de placa adulterada  e um Fiat Stillo prata. Na fuga pela Avenida Garibaldi, os veículos foram identificados e perseguidos por agentes da Polícia Civil que estavam em uma viatura descaracterizada (sem plotagem).

De acordo com a Polícia Civil, a ação dos bandidos era acompanhada pelo Serviço de Inteligência. 

Policiais que participaram da ação, ouvidos pelo CORREIO, contam que quando os bandidos perceberam que um carro os seguia tentaram escapar em velocidade e um dos veículos acabou colidindo com o meio-fio da calçada, já nas proximidades da Praça Lord Cochrane.

O pneu estourou e os integrantes tentaram fugir a pé, trocando tiros com a guarnição policial. O clima foi de tensão na via e entorno. Toda a ação,  desde a fuga da lotérica até a prisão, na avenida, de três dos cinco ladrões  pela polícia, durou cerca de 30 minutos. Um dos bandidos morreu baleado e outro conseguiu fugir.

Filme

“Foi uma cena de filme. Mais de dez  tiros e um monte de policial correndo aqui na rua.  Todo mundo saiu correndo, teve motorista que largou o carro no meio da pista e correu para procurar abrigo nos comércios aqui da área”, relatou uma moradora da Travessa Padre Domingos de Brito, no Garcia, para onde um dos ladrões tentou escapar, mas acabou baleado e morto.

Jeanderson Brito de Aguiar Santos, 30 anos, apontado como um dos autores do assalto à lotérica, não resistiu aos ferimentos e morreu no confronto com os policias do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e da Coordenação de Operações Especiais (COE).

Daniel Santos Moreira, Valdemir Bispo dos Reis e Sávio Profeta Chaves, este último baleado na perna, foram presos em flagrante. Já o motorista Reinaldo Jesus Santos, 42 anos, que não tinha nenhuma relação com a ação e dirigia pela Garibaldi, também foi baleado.

Tórax  

Em nota, a Polícia Civil informou que o Corsa dos bandidos colidiu com o Ford Ka dirigido por Reinaldo. Ele foi alvejado no tórax, segundo registro do posto policial do Hospital Geral do Estado (HGE), para onde foi socorrido. Segundo posicionamento da Polícia Civil, foram os criminosos os autores do tiro que atingiu a vítima. Reinaldo, que é morador do Alto de Pirajá, foi submetido ontem a uma cirurgia e tinha quadro de saúde considerado estável pela equipe médica da unidade médica.

Também foi levado para o HGE Jeanderson que, seguido por policiais, tentou escapar pela escadaria da Travessa Padre Domingos. Ele foi baleado e socorrido em uma viatura da polícia. Testemunhas afirmaram que o assaltante foi retirado do local já sem vida.

“Ele já saiu daqui morto. Não tinha movimento nenhum. No chão ficou uma poça enorme de sangue O tiro foi certeiro”, disse um morador da travessa. Sávio, o bandido que foi baleado na perna pelos policiais à margem da avenida, também foi levado ao HGE.

O boletim de ocorrência registrado no posto policial da unidade médica relata que Sávio, que é morador do IAPI, foi capturado por policias da 41ª Companhia Independente de Polícia Militar (Garcia-Federação) em uma rua estreita próxima do Colégio Estadual Edgar Santos, no Garcia. 

Sávio  teve alta médica ainda ontem pela tarde e foi conduzido para o DHPP, onde prestou depoimento no início da noite ao delegado Jorge Figueiredo, diretor da unidade. A Polícia Civil não informou onde ele e os comparsas  ficaram  custodiados ontem, apenas garantiram que devem ser conduzidos para o Sistema Penitenciário hoje.

Durante toda a manhã, quatro guarnições realizaram buscas pela região para localizar o assaltante que escapou. Até o final da noite de ontem, o foragido não havia sido localizado. A Polícia Técnica chegou ao local por volta das 11h em meio a um grande tumulto provocado por curiosos e congestionamento.

Dentro de um dos veículos de fuga, os peritos do DPT encontraram um saco com duas placas automotivas, além de uma Carteira Nacional de Habilitação e um documento veicular.

Foram encontrados também uma mochila vazia e um capacete que pode pertencer a algum dos integrantes da quadrilha. Com Valdemir e Daniel, os policiais apreenderam dois revólveres calibre 38, municiados. O quinto assaltante, que não foi identificado, fugiu levando uma pistola.

Antecedentes

Jeanderson, que morreu na ação, tinha três passagens policiais. Em 2005, foi preso e respondeu por tráfico de drogas em Feira de Santana. Foi indiciado em Dias D’Ávila e Santo Antônio de Jesus por roubo. No site do Tribunal de Justiça da Bahia há registro de ser réu em um processo por roubo no segundo semestre do ano passado e em um caso de latrocínio em 2013.

Segundo a polícia civil, Valdemir tem uma extensa ficha criminal. Ele tem passagem policial por agressão à mulher, em 2004; por brigar durante a festa da Conceição da Praia em 2005; em 2009 foi parar na 10ª Delegacia (Pau da Lima) por suspeita de roubo e em 2011 se envolveu em uma confusão com policiais em Saubara.

Em 2013, foi parar duas vezes na delegacia de Santo Amaro por ameaçar policias que o autuaram por poluição sonora. Já Daniel e Sávio não tinham antecedentes criminais

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Bando leva dinheiro de dois caixas de lotérica

Toda a confusão na Avenida Garibaldi, ontem pela manhã, começou com o roubo à Lotérica Garibaldi, no subsolo do Hiper Bompreço. No momento do roubo não havia seguranças no local. A quadrilha levou o dinheiro de dois caixas da lotérica — o valor não foi informado.

Uma das funcionárias do estabelecimento, que preferiu não ser identificada, contou que os bandidos agiram rapidamente e aproveitaram a proximidade do estabelecimento com o portão de saída da garagem — que não possui cancela de controle de veículos.

“Eles pareciam já conhecer o funcionamento daqui. Saíram do carro, apontaram as armas para os funcionários e levaram o dinheiro de dois caixas que estavam abertos”, relatou a funcionária. “Tinha um cliente aqui na hora, mas eles não atacaram o rapaz, não gritaram com ninguém. Só foram pedindo o dinheiro. Até agora, estamos todos trabalhando em estado de choque. Imagine você vir trabalhar e ter uma arma apontada para si”, disse.

A polícia aguarda hoje funcionários e o proprietário da lotérica para prestarem depoimento. Também está prevista para hoje a entrega das imagens do circuito interno de segurança. Até  o final da tarde de ontem, no entanto, a empresa responsável pelo circuito de câmeras não havia conseguido recuperar as imagens do roubo.

Pela tarde, a lotérica abriu normalmente. A polícia não informou se o valor roubado foi recuperado.

Do Correio 24 HoRas