Ativista que denunciou abusos de PMs sofre ameaças e deixa Salvador
O editor-chefe do blog Mídia Periférica,
Enderson Araújo, denunciou abusos de policiais militares na Bahia,
sofreu ameaças e deixou Salvador, alegando temer pela própria vida. Ele
está em local desconhecido. A Superintendência de Direitos Humanos da
Bahia e a Secretaria Nacional de Juventude acompanham o caso. Araújo diz
ter sido abordado por um policial militar ao sair de uma padaria no
último dia 9.
“Ele disse que era melhor eu segurar o dedo e parar
de escrever porque ficaria sem segurança”, recorda. Para o ativista em
direitos humanos, a ameaça foi motivada por uma matéria dele publicada
na revista Carta Capital sobre recentes ações da Polícia Militar (PM) em Salvador, que deixaram 15 jovens negros mortos em três dias.
Na madrugada do último dia 6, a PM matou 12 jovens no bairro do Cabula, em Salvador, após uma troca de tiros.
A polícia matou dois jovens no bairro de Cosme de Farias no dia
seguinte (7) e mais um jovem no bairro Sussuarana, onde Araújo vive, no
dia 8.
O blogueiro também publicou um vídeo em que
policiais ordenavam a dois jovens que tirassem a roupa para facilitar a
revista durante a operação em Sussuarana. “O vídeo e a matéria
[publicados] em um veículo de circulação nacional, questionando os
métodos da PM, irritaram alguns policiais.”
Em todos os casos, a Polícia Militar da Bahia alega
que as mortes ocorreram porque as pessoas demonstraram resistência à
abordagem e que parte dos mortos tinha passagem por roubo, tráfico de
drogas, posse de explosivos e de armas de alto calibre. Movimentos
sociais questionam a versão e alegam que a maioria dos mortos é jovem,
pobre e inocente.
Araújo acionou a Superintendência de Direitos
Humanos da Bahia e o governo federal, por meio da Secretaria Nacional de
Juventude e da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República. Ele recebeu a oferta de entrar no programa de proteção a
testemunhas, mas recusou a proposta. “Não posso abandonar meu trabalho
de militância e de articulação. Se entrasse nesse tipo de programa,
seria silenciado para sempre.”
O Ministério Público Federal está acompanhando as
investigações. Araújo defende uma perícia externa dos corpos. “A Polícia
Militar da Bahia já fez uma perícia, mas o ideal seria que o governo
federal entrasse na investigação”, informa.
Do Correio 24 Horas
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