Pinheiros-ES: Na “Igreja dos Noia”, o longo caminho para a recuperação
Eles são jovens. Chegam de bermudas e chinelos e se misturam a outros fiéis, mais velhos. A medida que o tempo passa eles levantam suas cabeças e repetem as palavras ditas pelo pastor: “Eu posso, eu quero”. Na “Igreja dos Noia” o culto é focado na superação: “Você pode fracassar, mas não pode desistir”. É é assim que usuários de drogas, principalmente de crack, estão sendo convidados a superar o vício em Pinheiros, Norte do Estado.
A cidade está entre as 17 no Estado que apresentam alto nível de problemas decorrentes do consumo de crack, segundo mapeamento realizado pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Outros 32 municípios estão em risco médio. Uma realidade que A GAZETA vem mostrando em uma série de reportagens publicadas desde domingo.
Autoestima O culto em Pinheiros acontece duas vezes por semana na hoje chamada Igreja Batista Renascer. Mas ela começou como a “Igreja dos Noia”. “Nossa pregação está voltada também para fortalecer a capacidade do ser humano e sua autoestima. Você é responsável pela sua mudança, nós somos auxiliares”, explica o pastor Fábio de Sá.
A igreja foi fundada numa região que estava tomada por usuários de crack: “Antes tinham bairros onde não podíamos entrar. E ninguém queria contato com eles”. Para conquistar a confiança dos “noia”, Fábio de Sá ia para a rua, de bermuda, chinelo ou descalço: “Abordo na linguagem deles, pergunto se estão usando drogas, e eles falam. É um trabalho de relacionamento.”
Em algumas situações recorreu aos traficantes para garantir a vida de usuários ameaçados de morte: “Em todos os casos fomos atendidos. Enquanto estão na igreja não são tocados, mas se saírem e aprontarem…”
Para o pastor, o caminho da recuperação passa pelo tratamento não só das questões da alma, mas também do emocional, do que motivou o vício. “Todo mundo que usa qualquer tipo de droga teve uma causa”, pontua. “Eu bebia para encarar a sociedade”, diz sobre seu vício, que deu a ele experiência para lidar com outros usuários.
Criticada no início, a igreja já conta com mais de 400 membros. “Hoje ela é do noiado e não noiado, do traficante, do homo e do heterossexual, do rico e do pobre”, diz.
Duzentos deles se reuniram numa noite de quarta-feira, em novembro. Terminaram o culto abraçados e chorando. “Vou conseguir”, disse um dos jovens para a nossa equipe, sem querer se identificar. Ao lado dele outro jovem, de 26 anos, que há onze é usuário. Ele reside na zona rural, com os pais. O uso intenso de crack, nos últimos anos, o levou a ser ameaçado por traficantes.
Sua família, que já pensou em expulsá-lo de casa, deposita suas últimas esperanças na igreja. “Ainda tô na fissura, mas é um dia de cada vez”, diz, lembrando que os amigos que fizeram uso de drogas com ele, na primeira vez, já estão mortos. “O último com mais de 30 tiros”. O próximo passo do pastor será reativar um centro de recuperação na cidade vizinha, Boa Esperança.
Por A Gazeta Online
Post a Comment