Governo teme acirramento da crise após prisão de José Dirceu
Auxiliares de Dilma temem que a investigação atinja o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo sem provas concretas
O governo avalia que a prisão do ex-ministro da Casa Civil José
Dirceu acirra mais os ânimos contra o PT e a presidente Dilma Rousseff e
aumenta o clima de beligerância no País num momento crucial, em que ela
precisa de apoio para enfrentar a pressão dos que querem o impeachment.
Auxiliares de Dilma temem que a investigação atinja o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo sem provas concretas.
O assunto foi tratado em conversas reservadas entre ministros, na
segunda-feira, antes da reunião de coordenação política. A ordem no
Planalto é proteger Dilma do novo escândalo, que tem potencial para dar
munição aos protestos marcados para o dia 16, em todo o país, contra o
governo e a corrupção.
A prisão de Dirceu na 17ª fase da Operação Lava-Jato, batizada de
Pixuleco, também provocou preocupação na cúpula do PT. Dirigentes da
corrente majoritária Construindo um Novo Brasil, de Lula e Dirceu,
discutiram os desdobramentos da crise na segunda-feira, em Brasília, e
nesta terça-feira haverá reunião da Executiva Nacional. Petistas
receberam informações de que integrantes da Polícia Federal e do
Ministério Público estariam dizendo aos presos: "Se você entregar o
Lula, sairá rapidinho."
Em nota, o presidente do PT, Rui Falcão, refutou as acusações de que o
partido teria realizado operações financeiras ilegais ou participado do
esquema de corrupção na Petrobras, conforme relato no acordo de delação
premiada feito pelo lobista Milton Pascowitch. A nota não cita Dirceu.
Pascowitch acusou o ex-ministro de comandar o desvio de recursos na
estatal e disse ter entregue R$ 10,5 milhões na sede do PT, em São
Paulo.
Planalto teme consequências de novas delações
A investigação da PF joga novamente os holofotes sobre o PT, dez anos
depois do escândalo do mensalão. Agora, o receio do Planalto e do
partido é de que novas delações compliquem mais o cenário político.
Dirceu foi homem forte do PT e do governo Lula e ainda tem influência
sobre a legenda.
— A Polícia Federal e o juiz Sérgio Moro não deixam a gente entrar na agenda positiva — disse um ministro.
Na semana passada, o governo achava que o reinício dos trabalhos do
Congresso seria difícil, principalmente por causa do presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), que rompeu com Dilma e tem o nome
envolvido na Lava-Jato. Assessores da presidente acreditavam, porém, que
a denúncia contra Cunha - acusado pelo lobista Júlio Camargo de cobrar
propina de US$ 5 milhões — poderia desviar o foco da pressão sobre
Dilma.
Agora, o diagnóstico é de que tudo vai piorar. Amigos de Dirceu
disseram que ele esperava a prisão e, por isso, está "tranquilo". Apesar
de magoado com Dilma e com Lula, sob alegação de que não o teriam
defendido, o ex-ministro não pretende apontar o dedo para ninguém.
O ministro da Defesa, Jaques Wagner, disse que o esforço do governo é
evitar que os problemas na política contaminem a economia.
— A gente dorme e acorda com uma notícia dessas. Do ponto de vista do
ambiente de negócios, essa é a preocupação, porque precisamos ter
estabilidade. As investigações seguem e o País também segue, com suas
empresas e a economia funcionando.
Irritado com acusações da oposição, que tentaram associar Dirceu a
Lula e Dilma, o senador Jorge Viana (PT-AC) partiu para o ataque:
— A oposição está num papel muito apequenado e não aguenta nem meia
Lava Jato — reagiu — Por que se apura a ação de algumas figuras e de
alguns partidos e não se apura de outros? É um jogo de cartas marcadas?
Fonte: Zero Hora
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